Ciências Naturais & Teologia, diálogo possível?

Quando ainda estava a finalizar minha graduação em Teologia pelo IFITEG, decidi que deveria também obter formação em alguma ciência natural. Minha decisão se deu pelas razões que seguem:

Motivação pessoal

Sempre vi com muitas reservas a carreira eclesiástica, sobretudo aquela vivida como fonte de sustento de quem exerce o oficialato na Igreja. Entendo que são raras as pessoas aptas a desempenhar com dignidade o oficialato eclesiástico, quando esse exercício é também a fonte de renda responsável por seu sustento. E não, não me considero uma pessoa rara, de modo que vi a necessidade de viabilizar meu sustento à parte do exercício do oficialato na Igreja

Zeitgeist 

Ao receber minha formação teológica no IFITEG aprendi que um bom método teológico compreende ver, pensar e agir. Assim, sempre que estou a tomar decisões considero o zeitgeist, mas não necessariamente para negá-lo, tampouco necessariamente para corroborá-lo. Fato é que ao considerar o espírito de nossa época, vi que as ciências naturais estão postas como paradigmas na construção do modus sciendi  individual e coletivo. Pondo-me então a pensar a esse respeito decidi por agir na direção e no sentido de obter formação em uma ciência natural, mas que fosse também uma ciência pura. Isso porque formação em uma ciência que fosse apenas natural poderia confinar-me a um nicho e, assim, deslocar-me de uma posição estratégica na construção de pontes entre saberes. 

Por que a Química e não outra? 

Dentre as ciências naturais puras, é a Física que costumeiramente  estabelece contato com a Filosofia e a Teologia. Então por que optei pela Química? No contexto brasileiro, considerar o exercício de uma ciência natural pura juntamente com viabilização de sustento é deveras complicado. Apenas a Química, por meio do sistema CFQ e CRQs, oferece oportunidades laborais amplas. Essa amplitude laboral de um(a) químico(a) é uma das razões pelas quais é razoável denominar a Química como uma ciência central para a econômica e para as demais ciências naturais. Para além de tudo o exposto acima, eu confesso: amo trabalhar dentro de um laboratório. 

Ciências Naturais & Teologia, diálogo possível? 

Eu poderia ter agido como agi e ajo, sem que necessariamente acreditasse ser possível um diálogo entre uma Ciência Natural e a Teologia. Ademais, temos que confessar que as tentativas de diálogos feitas até agora são desanimadoras, pois boa parte delas são atos apologéticos - de ambas as partes - pedantes e descompromissados com a verdade concreta. No entanto, o fato de crer em quem creio faz com que eu entenda ser possível e salutar um diálogo entre Ciências Naturais e Teologia, uma vez que essa crença não pressupõe dicotomia entre um suposto mundo exclusivamente espiritual e um suposto mundo exclusivamente material. Portanto, suponho que seja possível o diálogo entre as Ciências Naturais e Teologia, sobretudo uma teologia cristã, mas não estou certo de quais seriam as bases sobrea as quais tal diálogo se daria. Que a caminhada traga o discernimento necessário para responder - ou não - a essa pergunta. 

 

 Moacir Gabriel




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